A chegada da escrita, de Hélène Cixous
A escritora francesa percorre os caminhos da escrita labiríntica e do chamado à literatura
Se para a psicanálise a mulher é o signo da falta, a escritora francesa Hélène Cixous rompe com paradigmas em A chegada da escrita, lançado em 1986, em que afirma: “Você não tem falta de nada. Você está além da falta”.
Cixous constroi neste livro uma ode de amor à escrita das mulheres. Esse ser “à mercê do Outro”. Escreve: “Se você é mulher, está sempre mais próxima e mais distante da perda do que um homem”. Por meio dessa interdição é que nasce a escrita.
A autora é uma das precursoras do feminismo na França e esteve ligada à Jacques Derrida e Lacan e à desconstrução. Seu trabalho é pesquisar - imergir - nas teias da escrita feminina. Denunciando, muitas vezes, uma sociedade que não dá espaço a este gênero nascer.
“Tudo em mim ligava-se para interditar-me a escrita: a História, minha história, minha origem, meu gênero. Tudo o que constituía meu eu social, cultural. A começar pelo necessário, o que me fazia falta, isto é, a matéria em que a escrita se talha, da qual ela é extraída: a língua.”
É pelo desejo que ela almeja alcançar a escrita. Uma mulher, um ser desejante da própria originalidade. “Uma força alegre. Não um deus: isso não vem de cima, mas de uma região inconcebível, que me é interior, porém desconhecida […]”.
Para Cixous, toda mulher que escreve cria sua própria identidade apesar das barreiras. “A partir desse espaço atravessado de animosidades, como poderia ter dito “eu sou”?”.
“Se ela descobrisse sua força! Se, de repente, gozasse de sua imensidão! Se saltasse e não tombasse como uma pedra, mas sim como um pássaro. Se ela descobrisse nadadora do ilimitado!”
A escritora francesa nos conduz ao universo possível da literatura, apesar de nossa condição. Um ser desejante e faltoso que tece sua escritura diante do abismo inalcançável da língua.
“Lendo, descobri que a escrita é o infinito. O indestrutível. O eterno.”
P.S: A chegada da escrita, de Hélène Cixous, foi lançado no Brasil em 2024 pela Bazar do Tempo com tradução conjunta de Flavia Trocoli, Danielle Magalhães, Isadora Nuto, Marcelle Pacheco, Patrick Bange, Renata Estrella e Tainá Pinto.
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Fernanda.
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